Voar - IX - Tento
Sigo-o.
Subo à árvore,
Aos ramos que estalam sob mim;
A casca arranha-me as mãos,
Como não arranha os pés dele,
Mas ignoro.
Puxo um ramo que se parte;
Estala com um estalar
Que ecoa até ao céu:
O som de uma árvore a gritar...
"Desculpa... mas preciso."
E continuo.
Sinto-me mais pesado...
Será da distância do chão?
Ou de minha consciência carregado?
Mas com força,
Subo ao ramo esticado...
Em baixo, o chão foge de mim,
Mas equilibro-me mesmo assim:
De pé, braços abertos,
Minhas asas sobem no ar...
Pernas em ponto de impulsão...
Respiro fundo...
E olho-o:
"Continuas a voar...
Continuas em círculos imperfeitos
A deslizar...
Mas é agora que te vou acompanhar..."
E salto!
Vejo o céu a descer!
Sinto-me a subir!
"Consegui! Estou a voar!"
O meu peso corre para longe:
Faço parte do ar!
E bato os braços, a flutuar...
Sorrio
Sob o Sol quente que me segura...
Mas...
Ele largou-me!
O céu foge...
O chão corre para mim,
E o pássaro continua a voar,
Enquanto eu estou a cair,
E o ar choca contra minha cara:
Frio se faz sentir,
Pois meu lugar não é no ar,
Mas na relva que me chama
E me olha desesperada:
"Não!"
Grita.
Mas eu desço...
De braços abertos,
E olhos fechados:
"Desculpa..."
Lhe respondo,
Antes de lhe cair tal corpo atirado;
Antes de a esmagar, inocente, por baixo;
Antes de a sentir, sob meu corpo pesado;
Estatelo-me:
E fico sobre ela deitado.
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